domingo, 31 de maio de 2009

Futuro da acessibilidade

Pode-se ver que muito já foi feito no tocante à acessibilidade nos ônibus. No entanto, a população dependente desse serviço ainda espera por melhorias que lamentavelmente parecem não estar tão próximas de sua resolução.

Segundo Fernanda Gouvêa, além do aumento do número de ônibus com elevador, a população pode esperar novidades no setor. Trata- se do “Transporte Rápido por ônibus”. No entanto, não indicou um prazo exato para a implantação do novo transporte. “O veículo é sobre pneus, mas tem a configuração de um metrô, porque as portas abrem como uma porta de metrô e o piso da estação é da mesma altura do piso do veículo. Então isso permite que qualquer pessoa, até com carrinho de bebê, de muleta, e de cadeira de rodas que essa pessoa tenha um embarque “em nível”. Esse tipo de transporte está sendo licitado pra Região Metropolitana do Recife. Ele já existe em Curitiba e em outras cidades da América do Sul”.

Respeito dos usuários

Todos sabem que existem vagas destinadas a deficientes. No entanto, nem todos respeitam essa regra. Falta de conscientização ou simples “descaramento”? Não se pode precisar o motivo de tal atitude de muitos usuários.

Dentre as próximas ações da Grande Recife está a conscientização nas escolas públicas de Recife e Olinda.

Para Ricardo Maranhão de Lima Pessoa, instrutor de informática com deficiência física, conta um caso curioso e representativo da apatia de muitos usuários: “Aconteceu ontem quando eu peguei um ônibus voltando de Camaragibe. Tinha uma mulher sentada na cadeira reservada e ela tava “dormindo”. Aí eu passei por ela e a pessoa da cadeira de trás me ofereceu o lugar. Eu agradeci e fui. No momento que eu me sentei, ela abriu os olhos”.

Já João Pereira afirma nunca ter passado por situação semelhante.

As fontes








Luci Florenço de Aquino(primeira foto), doméstica.Cadeirante, moradora do condomínio adaptado Albert Sabin. Afirma sair pouco de casa por conta da dificuldade de transporte.








Aldecir Maria da Silva(segunda foto), estudante. A cadeirante demonstra insatisfação com o tratamento oferecido pelos motoristas e cobradores.
















João Pereira da Penha Filho(terceira foto). O cadeirante se divide entre Recife e João Pessoa, onde se dedica ao basquetebol.














Fernanda Gouvêa, Gerente de Relacionamento da Grande Recife. Além disso, é uma das responsáveis pela Comissão Permanente de Acessibilidade.

Ricardo Maranhão de Lima Pessoa, instrutor de informática. Utiliza prótese mecânica em uma das pernas.

Serviço dos motoristas e cobradores

Calçadas sem adaptação, grande quantidade de veículos inacessíveis, banheiros sem possibilidade de entrada...
Além desses obstáculos "rotineiros", os deficientes enfrentam dificuldades como o tratamento rude e a falta de capacitação de muitos cobradores e motoristas. Todos concordam que falta treinamento, mas ocorre divergência quanto à cordialidade dos profissionais.

Segundo João Pereira da Penha Filho, cadeirante residente do Albert Sabin, os profissionais são educados e respeitosos. Já para Aldecir Maria da Silva, estudante e também moradora da vila residencial, "Na maioria das vezes, eles são ignorantes, não têm paciência, principalmente quando o ônibus não é adaptado, porque demora a subir, tem que botar a cadeira. Eles não têm paciência, ficam reclamando".

Fernanda Gouvêa admite que o treinamento é necessário para promover um melhor atendimento ao usuário. "Não adianta aumentar a frota, não adianta que todos os carros tenham elevador se o pessoal não souber utilizar. Uma parte do treinamento tá voltada pra esse foco( de operação) e a outra para a parte de atendimento e respeito pelo usuário".

Limitações financeiras

Para Fernanda Gouvêa, Gerente de Relacionamento da Grande Recife, os entraves financeiros são os principais limitadores do aumento da acessibilidade na frota.

"O nosso país é pobre, não tem as soluções de tecnologia que você vê nos outros lugares do mundo, como o metrô. Todas elas têm o subsídio do governo federal, que já estão com todos os outros problemas resolvidos. No Brasil a gente tem vários problemas, como educação e saneamento básico, que sempre na linha de prioridades do governo, eles estão à frente da questão da mobilidade. Então quem paga os serviços de ônibus são inteiramente os usuários do sistema. Como não existe o subsídio, é preciso que a gente busque uma alternativa de transporte que sejam acessíveis, mas que as pessoas possam pagar. Então não adianta a gente tentar implementar tecnologias de transporte que são avançadas, que são "o ideal", mas que a nossa população não tem condições de pagar", diz Fernanda.

Apresentação

O blog Acessibilidade Ônibus Recife surgiu de um questionamento, de uma inquietação. Como deve ser para um deficiente pegar ônibus em nossa Região Metropolitana? Considerando as dificuldades das próprias vias e o próprio deslocamento, além da própria acessibilidade (ou falta dela) em muitos veículos, decidi abordar o tema num trabalho acadêmico realizado para a disciplina Jornalismo Cordial, ministrada por Adriana Santana na Universidade Federal de Pernambuco.

Buscando inquietar e informar sobre uma questão tão delicada e que muitas vezes não é tratada com toda a humanização que deveria, eu, Ana Laura Farias, estudante de Jornalismo da UFPE, entrevistei Fernanda Gouvêa, Gerente de Relacionamento da Grande Recife; Luci Florenço de Aquino, João Pereira da Penha Filho e Ricardo Maranhão de Lima Pessoa, deficientes físicos, usuários dos ônibus com SET (Serviço Especial de Transporte) e moradores do Albert Sabin, conjunto residencial adaptado para deficientes, na cidade de Paulista.

Além disso, participei de uma conversa informal com Edson, autônomo da Avenida Conde da Boa Vista. Edson gentilmente aceitou que eu o filmasse na subida de um ônibus com SET, para mostrar aqui como é a operação dos ônibus especiais.